Estava o Índio indolentemente sentado a beira do rio, pescando, quando chegou o homem branco. Foi chegando de mansinho, parou a certa distância e se pôs a observar.
Viu o Índio pôr isca no anzol calmamente, depois atirá-lo na água, olhar sonhadoramente para os círculos que se formavam e desapareciam na corrente e, fincar a vara na margem barrenta do rio, espreguiçar-se, recostar-se e esperar pacientemente.
Viu o ligeiro movimento da linha, depois mais rápido, mais rápido – até atrair a atenção do Índio.
Viu o Índio curvar-se para a vara, segurá-la, observar o vaivém da linha cada vez mais rápido, cada vez mais forte, e de repente, num pânico movimento brusco, felino, viril, sacar das águas um belo peixe de uns dois quilos.
E quando viu o Índio comer o peixe, jogar fora a vara para o lado e espichar-se na relva, acercou-se:
* Como? Não vai pescar mais?
* Não.
* Por quê?
* Já comi. Agora, descansar.
* Mas você pescou um peixe e tanto num instante …
* Pesquei.
* Podia pescar outros…
* Pra quê?
* Podia salgar e guardar para depois..
* Depois eu pesco.
* Mas podia pescar muito mais…
* Pra quê?
* Podia salgar e vender os peixes…
* E o que eu ia fazer com o dinheiro?
* Comprar mais varas, mais anzóis e pagar uns garotinhos pra pescar.
* Pra quê?
* Poderia pescar muito mais peixes…
* E que ia fazer com tanto peixe?
* Vender, claro. Ganharia muito dinheiro.
* Pra quê?
* Comprar barcos, molinetes, e pescar lá no meio do rio.
* Pescaria peixes muito maiores, e venderia, e ganharia mais dinheiro, e compraria mais barcos, redes, arpoes e contrataria mais pescadores e…
* Pra quê?
* Poderia até pescar no mar – e pescar muito mais peixes, e camarões, e baleias, e…
* Pra quê?
* Ganharia muito dinheiro. Montaria um frigorífico, uma indústria, ficaria riquíssimo…
* E…
* E então poderia pôr todo mundo trabalhando para você e ficar deitado o resto da vida, descansando, gozando a vida, apreciando a natureza …
* Bom… isto já estou fazendo agora.
E virou-se para o lado e dormiu…
QUE DEUS VOS ABENÇOE!!!!
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